domingo, 23 de agosto de 2009

Chuck Berry - Autógrafo tatuado no braço!

Quinta-feira, Teatro do Bourbon Country, 20h. Staff “putzgrílico” reunido no saguão do teatro: Pedro Fonseca (nosso Diretor Geral, fazendo a mão como fotógrafo), Sabrina Kwaszko (nossa Gerente de Relacionamento), eu e a Cris — minha mulher — curtindo uns canapés, bruschetas, nachos e um vinhozinho, conversando com alguns amigos, músicos e jornalistas que encontrávamos e esperando o momento de ver e ouvir novamente, pouco mais de um ano depois de sua primeira apresentação em Porto Alegre, um dos 3 nomes ainda vivos que criararm esse tal de roquenrol.

Pouco antes das 21h a Sabrina e o Pedro foram para a área reservada a imprensa, já que a Opus, promotora do evento, destinou dois passes para cada veículo. Como minha mulher e eu havíamos comprado nossos ingressos no primeiro dia em que começaram a ser vendidos, apenas curti o show, sem ter que trabalhar, deixando a “árdua tarefa de fotografar” Mr. Berry nas mãos do Pedro.

Não reparei muito no horário em que o show começou, mas não deve ter atrasado. Se não foi pontualmente às 21h foi pouquíssimos minutos depois que o riff clássico da intro de Roll Over Beethoven abriu a noite, mostrando um Chuck que nada mais é do que o bom e velho Chuck: show sem setlist definido, com ele tocando o que tava a fim, tirando onda com o pianista e sacaneando a sua banda, mudando as introduções e andamentos das músicas. Nos últimos anos ele tem viajado com sua banda, que conta também com seu filho, Chuck Berry Jr. na outra guitarra. Antes viajava sozinho e nem guitarra levava. Tinha como exigências uma guitarra Gibson semiacústica — em sua primeira apresentação no Brasil, 1993 foi Marcelo Nova quem emprestou sua Gibson para Mr. Berry — e uma banda que conhecesse suas músicas. O show rolava direto, sem ensaio nem passagem de som. Bruce Springsteen e Stevie Miller, por exemplo, já foram guitarristas de apoio de Chuck Berry em shows pelos Estados Unidos.

Voltando ao show: além de Sweet Little Sixteen, School Days, My Ding-a-Ling, Let it Rock, Maybellene, Nadine (uma das canções que mais curto. Tem uma versão hilária com o Cheech & Chong no filme Corsican Brothers que é um espetáculo!), ´Round and ´Round e, óbvio, Johnny Be Goode — rocks que semearam tudo que foi feito depois de 1955 — rolaram alguns blues como Rock me Baby e Every Day I Had the Blues, além de uma homenagem à Ray Charles e algo como um bolero em espanhol, que eu não soube identificar, mas na onda de La Juanda e Havanna Moon.

Chuck Berry é Chuck Berry. Uma lenda, um mito, O Cara.
Não dá pra dizer que seus shows são sempre iguais, pois o cara tem quase 300 canções compostas, além de alguns temas de outros compositores que ele resolve colocar em seus shows, mas o figurino, o tempo de apresentação (menos de uma hora) e as mulheres no palco (nessa foto, do show de Porto Alegre aparece a Simone, uma querida amiga!) para encobrir sua saída — sem bis — são sempre (ou quase: em Porto Alegre, no show de 2008 que encerrou a tour no Brasil rolou um bis! Também pudera, segundo o cara foi o melhor show da turnê!) iguais. O que muda é a emoção no rosto de cada espectador, sem contar que é um show pra cima! Alegre e descontraído.

Muitos críticos — que deveriam ser açougueiros, enfermeiros, professores de OSPB, senadores, advogados ou alguma outra profissão que não tenha como pré-requisito conhecer um pouco sobre a história da música — escreveram falando mal do show, que foi curto, que Chuck Berry errava as notas, estava cantando mal e... putaqueospariu, não vou perder meu tempo falando desses bundões. O show durou pouco mais de 50 minutos e foi uma verdadeira aula de como se faz rock and roll! Na próxima, escrevam sobre os shows do ênixiszéro, frésco ou jogos como guitar hero, que fazem parte do universo de vocês, e não sobre um dos caras que criou o rock and roll! Quero chegar aos 82, quase 83 anos fazendo a metade do que Chuck Berry faz!

Extasiado mais uma vez, pois foi a segunda oportunidade que tive de ver ao vivo o cara que me fez querer tocar guitarra por tabela (com Johnny Be Goode quando vi Michael “Marty McFly” J. Fox em 1985 no filme Back to the Future), saí do teatro e fui para o Espaço Du Font (bar do meu grande brother Mário, em frente à Ponte do Guaíba, num clima daqueles bares de beira de estrada que a gente vê nos filmes, algo como o Double Deuce, do filme Matador de Aluguel, onde a banda da casa era o Jeff Healey Band) curtir o tributo ao Raulzito da banda Paranóia II, em homenagem aos 20 anos sem Raul Seixas, que morreu em 21 de agosto de 1989. Ou seja: entramos na madrugada do dia em que Raul morreu fazendo uma homenagem à ele depois de assistir uma de suas maiores influências. Sei-lá bixo: tenho essas viagens de ir juntando as coisas que acontecem na vida, na história, buscando uma ligação entre elas. E acho que foi isso que me deu a segunda maior emoção que senti em minha vida, superada apenas pelo momento em que peguei meu filho no colo quando nasceu: um encontro, um aperto de mão e o autógrafo de Chuck Berry, que foi tatuado em meu braço direito, onde também tenho escrito “Minha Vida é o Rock and Roll”.

Cheguei em casa por volta das 3 da manhã. A Cris, minha mulher que havia ido junto ao show e quase subiu ao palco já estava dormindo, pois como ela acorda muito cedo para trabalhar, depois do show foi para casa e eu, como escrevi antes, para o tributo ao Raul. Tomei uma dose de Jack Daniel´s cowboy e um banho. Deitei e dormi.

Na sexta-feira, dia 21, acordei perto das 9h e comecei a lembrar do sonho que tive: eu tinha ido ao aeroporto, encontrado Chuck Berry, pedido um autógrafo em meu braço e tatuado depois. Dei uma risada, pois essa idéia tinha sido dada pelo Thiago Scott — mais um dos malucos que fazem parte da Rádio Putzgrila — nos emails internos que enviamos diariamente para definirmos as diretrizes da rádio. Dei uma risada mas pensei: “Por que não? São 9 horas. Vou pegar o carro e ir para o aeroporto. O máximo que vai acontecer será eu ficar lá até o meio dia e ir apresentar o Digestivo Putzgrila, programa que apresento de segunda à sexta, das 13 às 15h na Putzgila”.

Cheguei umas 9h30min no aeroporto. Óbvio que deixei o carro estacionado numa parte onde é proibido, mas na qual todo mundo estaciona. Se fosse multado, azar. Era pelo rock, e o rock hoje — ao contrário do que já foi por influência do Berry — anda muito careta e bundão, sem atitude.

Enquanto caminhava uns 400 metros até uma das entradas da área de embarque do Aeroporto Internacional Salgado Filho liguei pra Sabrina para saber se rolava com a produtora alguma informação de horário de embarque. Ilusão a minha. Óbvio que eles não iam dar essa barbada. Tudo bem, entrei no aeroporto, comprei um vanilla expresso (meu vício, já que os outros são esporádicos, mas o vanilla é diário. Uns 3 ou 4) e fui caminhando em direção ao check-in, olhando para ver se via alguma movimentação diferente. Nada. Perguntei a um dos seguranças do aeroporto se ele tinha percebido alguma coisa fora do normal naquela manhã. Falei sobre o Chuck Berry, como era e tal, mas ele não tinha a mínima idéia de quem era, e disse assim: ”Ah, não tem erro. Os artistas entram pela porta sem frescura, só que fazem o xéquim na frente dos outros e vão direto para as salas de embarque. Claudia Raia fez assim.”. Agradeci a atenção, desejei um bom dia e fui indo em direção à entrada que fica na frente da sala de embarque, a primeira de quem chega ao aeroporto.


Não deu um minuto e Mr. Berry — com seu quepe, óculos escuros e uma jaqueta azul, meio lilás — entra com sua banda e um “peixe-piloto”, um segurança, acompanhante, que não deixava as pessoas chegarem muito perto, seguindo-o como uma sombra. Olhei pra ele a uns 3 ou 4 metros de distância e disse: “Mr. Berry I just wanna say thank you for the rock and roll!”. O cara caminhou na minha direção e extendeu a mão! Apertei a mão dele tremendo, não acreditando muito no que tava acontecendo, mas disse algo como “Do you sign my arm for a tattoo?” ele responde apenas “On a corner, on a corner” e saiu andando na direção do check-in. E eu do lado! Acompanhando! Quando passamos próximo a um pilar, com uma propaganda luminosa ele pediu a caneta e caminhou ao meu lado uns poucos metros, até encostarmos no pilar. Peguei uma caneta de retroprojetor vermelha que eu tinha levado no bolso da camisa, tirei a tampa e entreguei pra ele. Ele segurou meu braço com a mão esquerda e autografou na parte interna de meu antebraço!

Agradeci!! E ainda mostrei minha tatuagem no mesmo braço, no outro lado, que diz “Minha Vida é o Rock and Roll” e disse: “This tattoo is My Life is the Rock and Roll”. Ele me entregou a caneta e disse: “Yeah boy. Our life is the Rock and Roll!”, e saiu andando na direção da banda e do segurança! Acho que esse momento durou menos de 10 segundos! E eu ainda tava com o copo de vanilla expresso na mão!

Foi tudo muito rápido! Eu pedi uma foto e o segurança, que falava português, disse não. Podia tirar fotos dele mas não com ele. E Mr. Berry saiu rindo em direção ao check in, onde os outros integrantes da banda já estavam. O movimento no aeroporto era pequeno, algumas pessoas o reconheceram, ouvi comentários do tipo “o cara é uma lenda”, mas sem muito assédio. Fiquei ainda um breve tempo, menos de 5 minutos, olhando eles despacharem as malas e irem para a sala de embarque. Algumas pessoas batendo fotos, outras apontando, ele abanando de longe (tirei algumas fotos, mas ficaram ruins. Eu ainda tremia! E nem me liguei na regulagem da câmera). Quando eles realmente foram para a sala de embarque consegui pelo menos tirar uma foto com Chuck Berry Jr, o filho do Cara, e ainda disse: “Keep on Chooglin´ man!”!
Pra mim foi algo como tirar uma foto com aquele outro cabeludo — o Jotacê — e dizer: “Bixo, continua espalhando a mensagem de paz e amor do teu pai”.

Sai do aeroporto direto para o estúdio do Edu Tattoo, meu irmão, grande amigo e ex-amigo grande, rindo e chorando, emocionado — assim como tô agora, escrevendo e lembrando. Podem até me chamar de emo, mas não é todo dia que homenageamos os 20 anos da volta do pai do rock brasileiro ao seu planeta ganhando um autógrafo de um de seus maiores ídolos e um dos criadores do rock and roll.

Como o Edu tá em Portugal, acabei tatuando com o não menos talentoso Camilo.
Valeu meu velho! A tattoo ficou ducaralho!
Muito obrigado meu amor, pela força sempre! Obrigado à Sabrina, Pedro, Scott e todo staff da Putzgrila, meus amigos e irmãos. Juntos — e por ideologia — não vamos deixar o rock and roll morrer.

E dia 16 de setembro é a vez de Jerry Lee Lewis mandar ver em Porto Alegre, no Pepsi on Stage, e com show de abertura de outro grande irmão e amigo: Mutuca e sua banda, Os Animais.

Mr Berry, muito obrigado pelo rock and roll!

Grande abraço a todos!
Keep on rockin´!

Rafael Cony
• Apresentador dos programas Digestivo Putzgrila (seg a sex, 13 às 15h), Rafael ao Cubo (terça, 15h) e Putzgrila Classic Álbuns (quinta, 15h) na Rádio Putzgrila — http://www.radioputzgrila.com.br/ — a rádio rock de verdade!
• Músico e produtor da banda Só Creedence – www.socreedence.com.br

3 comentários:

Mire disse...

Massa, muito massa!!!
O movimento rock nunca há de morrer!

mãe disse...

Só hj tive tempo de ler...foi emocionante mto afu adorei da-lê Cony

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom